Simplicidade, Humildade e Compaixão
Sou terapeuta, e como tal, lido com a dor todos os dias,
pois muito além de ser o meu trabalho, é também minha paixão: o cuidado com o
outro.
Através da terapia de Florais de Bach, busco compreender o
momento de dor do meu paciente e tento fazer com que ele se sinta acolhido
verdadeiramente. E para isso, não sou apenas ouvidos, mas também sentidos, todos
voltados para cada uma de suas palavras.
Como terapeuta, não me julgo mais do que o paciente, com o
poder sobre a sua vida apresentando soluções rápidas, imediatas do problema.
Mas, procuro ir muito além... Sutilmente lhe peço licença para, ao menos por
uma hora, entrar em seu mundo e procurar entendê-lo com meu coração. Ao menos
por esse momento, sinto-me como uma convidada a conhecer o seu mundo mais
íntimo, e aí então consigo perceber a sua verdadeira dor. Meu silêncio é
essencial...
Às vezes, como qualquer ser humano, também adoeço, ou me
sinto triste. O sofrimento também faz parte da minha jornada, assim como faz
parte da jornada de qualquer ser humano. E isso parece assustar as pessoas,
pois frequentemente ouço o comentário: “Mas, você assim?” Eu sorrio, pois
parecem esquecer que antes de eu ser uma terapeuta, sou um ser passível da dor
como qualquer outro. Respondo gentilmente: “Sim. Eu também. É necessário, até
para que eu entenda a sua dor e possa te ajudar a superá-la.”
Dr. Edward Bach |
Dr. Edward Bach, médico inglês, descobridor dos florais, em seus últimos dois anos de vida, fez a
descoberta dos últimos 19 florais – os Assistentes – e para isso, passou por
estados de desequilíbrio físico e emocional, para que assim, pudesse identificar
a cura e buscar a flor que traria o alívio. Sentindo a dor, ele era capaz de
compreender ainda melhor, a dor que aflige o outro.
Ele contraía algumas horas
antes os sintomas da doença e isso,
embora muito desgastante para ele, dava-lhe uma tal compreensão e empatia com
seus pacientes, que eles imediatamente tinham certeza de que conseguiriam
auxílio, tranqüilizados pelo conhecimento íntimo que Bach possuía das condições
deles. (WEEKS,XIX,p.156)
Vivemos numa sociedade onde o imediatismo, o sucesso e a
felicidade são fatores obrigatórios na vida de todos. Um olhar maquiado, um
sorriso permanente, uma palavra pronta sempre na ponta da língua; frases
feitas, expressões de euforia, palavras doces e emoções superficiais, permeiam
nossa cultura, transformando pessoas numa espécie de Poliana, em que o joguinho
do contente se faz mais do que necessário, uma filosofia de vida
imprescindível. É o fast food da
alegria e do prazer.
Frases de otimismo com conotações de pretensa filosofia, sem
reflexões mais profundas são colocadas e adquiridas como produtos em
prateleiras de supermercado, com prazo de fabricação e validade. Logo, minutos
depois, são substituídas por outras, mais alegres, mais “verdadeiras”, mais
coloridas, sem que para isso, as frases que foram substituídas tivessem sido
vivenciadas verdadeiramente. É a urgência do discurso pronto!
Somos obrigados a ser felizes e bonitos a todo instante, sem
direito a dor. O sorriso deve ser permanente, mesmo que o coração esteja
partido e a vontade de chorar esteja insuportável. Um vazio de sentidos adoece
consciências...
A negação da dor é a negação de si mesmo, uma vez que esta
está nos indicando que em algum fator de nossas vidas, estamos falhando. Ela
não deve ser alimentada para fazer-se maior, mas sim, vista como um sinal de
que devemos tomar alguns cuidados a partir de uma observação profunda sobre
suas causas.
Será que a inabilidade de cuidar do outro, de estender a mão
apontando o dedo, trazendo a solução pronta como se fosse uma fórmula mágica,
sem dar a menor atenção à verdadeira causa do problema, a inabilidade de não
saber ouvir e compreender a dor do outro, está intrinsecamente ligada a nossa
dificuldade em lidar com a própria dor?
"Não há despertar
de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do
absurdo para evitar enfrentar sua própria alma. Ninguém se torna iluminado
por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão." JUNG,
Carl G.)
Um terapeuta deve ser um agente nesse momento, capaz de ajudar o outro a perceber por si próprio,
onde ele está precisando fazer uma modificação ou ganhar algum sentido.
Mas como fazer isso? Como ajudar o outro a resolver os seus
problemas?
Nesse ponto, somente uma sutileza de sentidos muito grande é
capaz de tal façanha. E para isso não é apenas necessário ser um terapeuta de fato,
mas antes de tudo um ser humano com a sensibilidade necessária para ouvir, seja
lá qual for a sua formação. Conforme
JUNG, “Conheça todas as
teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas
outra alma humana.”
Mostrar-se capaz de ouvir, de compreender a dor alheia.
Dizer ao outro com a docilidade necessária: “Eu te compreendo. Eu sei o que
está sentindo. E estou aqui, ao seu lado.” Muitas vezes basta um abraço, alguns
minutos de atenção, e a empatia será estabelecida. A dor só precisa de
cuidados. A dor só precisa ser ouvida. Deixar que ela se manifeste, para que
possamos compreender o seu real significado.
Sigmund Freud, em sua maravilhosa obra, disse:
"Existem
momentos na vida da gente, em que as palavras perdem o sentido ou parecem
inúteis e, por mais que a gente pense numa forma de empregá-las, elas parecem
não servir. Então a gente não diz, apenas sente."
Mas quem é terapeuta, afinal? Terapeuta é todo aquele que se
propõe a estender a mão para o outro e deixar que o seu silêncio seja maior do
que suas palavras. É aquele que sabe ouvir sem apontar, e se coloca no lugar do
outro.
Conforme Dr. Edward Bach,
“Não apenas podemos nos
curar, mas também temos o grande privilégio de sermos capazes de ajudar os
outros a se curarem e as únicas qualificações necessárias são amor e compaixão.”
Sorrir é maravilhoso. Mas a tristeza e a dor também são
agentes necessários para que possamos conhecer a felicidade, ao menos no estado
de consciência, no qual nos encontramos. Assim como se sabe que o dia é dia,
apenas por saber que a noite não se tem o Sol. As cores são diversas, mas todas
compõem a mesma aquarela, que nas mãos do artista se transformam em obras de
arte. A alegria, a dor, o choro ou o riso, tudo tem seu valor.
Apresentar soluções rápidas e superficiais é o mesmo que
dizer a um deficiente visual, que estando preso a um pequeno lugar, bate sua
cabeça numa parede, e tropeça no menor obstáculo: “Você bate sua cabeça, porque
é cego! Deve sair daí!” Qual o sentido disso? Acaso ele já não sabe que seu
problema é justamente esse? Não seria mais adequado, darmos a mão a ele, e
dizer com gentileza: “Posso dar minha
mão a você nesse momento e juntos sairemos dessa situação que tanto te aflige?!”
O imediatismo do mundo moderno nos priva dessa condição de
paciência, com sua suprema exigência da felicidade adquirida num “fast food emocional”, ilustrada pela
superficialidade e falta de compaixão para com o outro. Temos pressa! E a
pressa não nos permite aprender a lidar com o outro. Pois a pressa, nos rouba o
próprio tempo. Tempo que nos falta a nós
mesmos para nos compreender.
Olhar mais para dentro de si sem medo, é compreender melhor
o outro. Um olhar profundo, capaz de perceber a simplicidade que a vida nos
pede, reconhecer com humildade nossas próprias dificuldades, nos levará a
divina Compaixão por nós mesmos e também, por todos os que sofrem.
Humildade, Simplicidade e Compaixão, foram os preceitos que sustentaram a vida e a filosofia do Dr. Bach, que viveu aquilo que acreditou, e acreditou em tudo o que viveu.
Peço então a mim e ao mundo: Humildade, Simplicidade e
Compaixão por mim mesma, e por todos os seres viventes.
Por Sandra Baptista
Referência
bibliográfica:
BACH, Edward.“Cura- te a ti Mesmo” – Ed. Pensamento
WEEKS,
Nora.As Descobertas Médicas do Dr. Edward Bach.The Dr. Edward Bach Healing
Centre1973.
Parabéns, Sandra, por este texto tão esclarecedor a respeito do papel do terapeuta e a importância da compreensão da dor para que melhor possa auxiliar no processo de cura. Texto maravilhoso, enriquecido pelas citações de Jung e do Maravilhoso Dr. Bach!
ResponderExcluirGratidão profunda, Fulvio! agradeço muito o seu carinho! beijos e luz!
ExcluirParabéns ,Sandra! Excelente texto! Gratidão! Beijos
ResponderExcluirGratidão profunda, Ana Cristina!!! Beijos no coração!
ExcluirParabéns pelo texto! Muito claro, muito bem escrito e cheio de profundos sentimentos... Obrigada!
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Muito claro, muito bem escrito e cheio de profundos sentimentos... Obrigada
ResponderExcluirAmei! Parabéns querida 😍😍😍
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